
A presidência brasileira da COP30 divulgou nesta terça-feira (18) o primeiro rascunho do pacote de decisões que deve guiar as negociações mais sensíveis da conferência. O documento, ainda preliminar, reúne temas historicamente travados — financiamento climático, metas de redução de emissões, medidas comerciais e regras de transparência — e incorpora propostas impulsionadas pelo governo Lula para reduzir a dependência global de combustíveis fósseis.
O rascunho inclui o “mapa do caminho” para a transição energética, concebido pela ministra Marina Silva e defendido por Lula desde o início da conferência. O texto apresenta três versões possíveis: uma referência genérica a soluções de baixo carbono; uma opção de retirada completa do trecho; e uma formulação mais ampla que propõe criar uma mesa ministerial internacional dedicada a apoiar países na elaboração de planos para “superar progressivamente a dependência dos combustíveis fósseis”.
O documento também traz mensagens indiretas ao boicote do presidente americano Donald Trump, ao destacar compromissos com o multilateralismo e a necessidade de cumprir acordos internacionais. As referências ressoam o episódio em que Trump retirou os EUA do Acordo de Paris em seu retorno à Casa Branca e refletem divergências com a política climática americana.
Batizado de “decisão mutirão”, o texto cobra mais recursos financeiros, reforça debates sobre gênero e destaca, pela primeira vez em um documento oficial de COP, a importância das populações afrodescendentes no enfrentamento da crise climática. A estratégia brasileira de agrupar os temas mais polêmicos em um pacote único buscou evitar bloqueios logo no início da cúpula — algo considerado vitória diplomática após anos de conferências travadas.
A fase agora é de negociação. Países vão revisar o documento e, segundo a presidência da COP, uma segunda versão — mais enxuta — será divulgada antes da fase final de debates. Como ocorre em todas as COPs, tudo ainda pode ser alterado até que haja consenso entre as delegações.
Entre os temas sensíveis, o financiamento climático continua sendo o maior ponto de discórdia. O rascunho dedica vários trechos à cobrança de mais dinheiro para adaptação, mitigação e perdas e danos, mas retoma termos criticados por países mais pobres ao mencionar que os países ricos devem “assumir a liderança” na provisão de recursos. Há parágrafos entre colchetes com opções opostas: uma reconhece o acordo da COP29 como avanço; outra diz que o pacto “deixa a desejar”.
Especialistas avaliam que as negociações tendem a conectar temas. Para observadores, como o dinamarquês Mattias Soderbergh, pode haver troca entre avanços na redução do uso de petróleo — defendida pela União Europeia — e compromissos financeiros mais robustos, cujo custo tem sido resistido por países desenvolvidos.
Com o rascunho divulgado, começa a etapa mais delicada da COP30: transformar um documento politicamente ambicioso em consenso entre países com interesses climáticos e econômicos profundamente divergentes.